quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Análise dos fatores que motivam os pacientes adultos a buscarem o tratamento ortodôntico


 

Artigo publicado na Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, por Liliana Ávila Maltagliati; Luciana Andrade do Prado Montes , no ano de 2007 (Maringá, v. 12, n. 6, p. 54-60, nov./dez.).

Este artigo apresenta os principais fatores que motivam os pacientes adultos a buscarem o tratamento ortodôntico.

            A aparência facial exerce um importante papel no julgamento da atratividade pessoal e também no desenvolvimento da auto-estima. A percepção da aparência, principalmente da face, afeta a saúde mental e o comportamento social com implicações significativas nas áreas da educação e profissional, bem como na vida afetiva (BERSCHEID apud GRABER, VANARSDALL). No entanto, alguns estudos têm demonstrado que a percepção da própria aparência envolve inúmeros aspectos que não necessariamente estão relacionados com a real intensidade de deformidade facial ou, mais especificamente, com a gravidade da má oclusão apresentada. Irregularidades menores, como um apinhamento ântero-inferior suave ou um diastema mediano, podem chamar mais atenção e incomodar muito mais o paciente do que anomalias mais graves, como excesso vertical de maxila, prognatismo ou assimetrias.
A preocupação com a saúde e a estética faciais, que inclui obviamente a saúde e estética dentárias, se altera de acordo com a idade e com as condições socioculturais e parece haver uma motivação maior do gênero feminino para se submeter ao tratamento ortodôntico, em relação ao masculino.
As mulheres demonstram ser mais exigentes com a própria aparência, apresentando maior nível de insatisfação e, conseqüentemente, estão presentes em maioria na amostras avaliadas. Os indivíduos solteiros e que possuíam formação universitária também foram maioria dentre os avaliados.
Segundo Sergl e Zentner, dois fatores-chave parecem exercer influência significativa na decisão dos adultos em submeterem-se ao tratamento ortodôntico. O primeiro está na dependência da quantidade e da qualidade das informações a respeito do tratamento e na capacidade de apropriar-se dessas informações e transformá-las em decisão. O segundo fator diz respeito à motivação do paciente, que está intimamente relacionada com a percepção da deficiência da própria aparência estética e que atinge com maior freqüência mulheres e pessoas que trabalham com o público.
No trabalho de Hamdan, 40% da amostra declararam sentir-se desconfortáveis com a própria má oclusão (71% mulheres e 29% homens) e 93% da amostra total buscaram o tratamento principalmente por razões estéticas. Um quinto dos pacientes da amostra relatou uma segunda razão após a estética, entre elas a dificuldade mastigatória e os problemas articulares (11%) e as dificuldades na fala (7%). Hamdan também observou que houve uma fraca correlação entre o descontentamento com a própria oclusão e o índice de necessidade de tratamento (IOTN), sugerindo que a severidade da má oclusão, provavelmente, exerce um papel menos importante, na decisão da busca pelo tratamento, do que poderíamos supor. Outros fatores, como o nível socioeconômico e a percepção individual dos benefícios psicológicos, possivelmente, exercem maior influência. A satisfação com o progresso do tratamento dos filhos também demonstrou funcionar como um estímulo adicional para que os pais buscassem o tratamento ortodôntico. Neste mesmo trabalho, quase 70% da amostra reconheceram sentir desconforto em relação à própria aparência, sendo que para 30% esta insatisfação chegava a provocar grande insegurança, a ponto de estabelecer nítidas desvantagens sociais.
A mensuração do grau de severidade de uma má oclusão e a necessidade de tratamento é difícil e sujeita à diversidade de opiniões e conceitos ortodônticos que se confundem com a queixa principal do paciente. Um método bastante útil e utilizado é o índice de necessidade de tratamento (IOTN), que define a severidade dos desvios oclusais que possam ameaçar a longevidade da oclusão. Este índice possui um componente dentário (DHC) e um componente estético (AC) com validade e confiabilidade verificadas por vários autores. Também tem recebido algumas modificações, no intuito de assegurar maior fidelidade aos resultados, especialmente quando utilizado em pesquisas realizadas por dentistas não especialistas (clínicos-gerais). Entretanto, esses índices oclusais são eficientes para definir a necessidade de tratamento somente do ponto de vista clínico, sem tecer considerações sobre a percepção funcional, estética e psicológica do paciente, sobre a necessidade de tratamento que o mesmo acredita ter, tão importante no norteamento do planejamento, principalmente de pacientes adultos.
É comum deparar-se com pacientes que não fazem idéia sobre a variedade de recursos atuais disponíveis e a amplitude das mudanças faciais que podem acontecer em conseqüência do tratamento ortodôntico/cirúrgico.
Desde as primeiras consultas, tanto o ortodontista como o cirurgião precisam empenhar-se em conhecer profundamente as expectativas dos pacientes em relação ao tratamento, visando adequá-las às reais possibilidades terapêuticas. Este cuidado preliminar aumenta consideravelmente as chances de satisfação com os resultados finais, uma vez que, desde o início, direciona o profissional e o paciente para objetivos factíveis de tratamento. Alguns estudos têm sido realizados com o intuito de colher subsídios para definir o perfil psicossocial dos indivíduos que buscam o tratamento ortodôntico. De acordo com o trabalho de Sergl e Zentner, 70% dos pacientes que ficaram satisfeitos com os resultados obtidos consideraram-se bem informados sobre o tratamento a que estavam sendo submetidos.
Portanto, o tempo despendido para conhecer os verdadeiros interesses do paciente é precioso, sendo de extrema importância informar - da maneira mais clara possível - os objetivos, possibilidades e limites do tratamento. Vale considerar que, do ponto de vista do paciente, o tratamento de sucesso é aquele que alcançou as suas expectativas. Sahm et al. e Mehra et al. acreditam que a melhor forma de conquistar a confiança e obter a colaboração dos pacientes é dando importância às relações interpessoais e, conseqüentemente, investindo na relação profissional-paciente. Incentivar a participação do paciente na escolha da melhor alternativa de tratamento irá, obrigatoriamente, fazer com que ele reflita melhor sobre as suas reais intenções para com o tratamento, tornando-o co-responsável, e isto refletirá positivamente na relação profissional/paciente.
Tem ficado subentendido na literatura que, para a maioria dos pacientes, o fator motivador de maior impacto psicológico é a percepção individual da própria anomalia e não a opinião e reação das outras pessoas diante do problema. Entretanto, é importante que este tipo de paciente seja muito bem informado sobre as limitações do tratamento ortodôntico, pois a expectativa exagerada aumentará igualmente a sua exigência e a potencial insatisfação com os resultados obtidos. Para Graber e Vanarsdall, o clínico é normalmente despreparado para avaliar psicologicamente o paciente e dificilmente obterá sucesso quando o paciente não apresentar condições psicológicas favoráveis.
Visando encontrar uma forma de facilitar a comunicação entre paciente e profissional, Martins et al. propuseram a utilização de um questionário, claro e objetivo, apresentando um conjunto de problemas que pudessem ser apontados pelo paciente para definir suas queixas. Por meio deste questionário, avaliaram a concordância existente entre o plano de tratamento proposto pelos ortodontistas e a queixa apresentada pelos pacientes. Os resultados demonstraram que houve um nível de concordância excelente em 64,5% da amostra, enquanto em 29% a concordância foi de razoável a boa.
O presente trabalho foi realizado com o objetivo de procurar conhecer melhor os anseios e as expectativas dos pacientes no momento em que decidem se submeter ao tratamento ortodôntico. Utilizando um questionário que foi aplicado na consulta inicial e respondido pelo próprio paciente, foi proposto também observar-se quais as queixas mais comuns, os benefícios de tratamento mais conhecidos pelos pacientes e aqueles que são menos conhecidos ou até desconhecidos por eles. Considera-se que a determinação de um método eficiente para obtenção dessas informações representa uma ferramenta importante na interação do profissional com o paciente e, conseqüentemente, no sucesso do tratamento.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a realização deste trabalho, logo na primeira consulta, foi apresentado aos pacientes um questionário, o mesmo proposto por Arnett e Worley em seu estudo, contendo uma lista de condições para que eles pudessem identificar suas queixas. O conteúdo do questionário foi dividido em 3 categorias: 1) modificações dentárias, 2) modificações faciais e 3) modificações dos sintomas; pois, de acordo com Arnett e Worley, os pacientes que procuram tratamento ortodôntico, geralmente, estão em busca de mudanças em alguma destas categorias. O questionário foi respondido pelos próprios pacientes, possibilitando que eles identificassem suas queixas e também tivessem a oportunidade de especificar em que sentido deveria ser feita a correção. Desta forma, poderia ser identificado o nível de percepção que os pacientes possuiam em relação às suas próprias anormalidades faciais e dentárias.
A amostra foi composta por 70 pacientes (44 mulheres e 26 homens), com idades variando entre 20 e 55 anos, escolhidos aleatoriamente, entre os inscritos em busca de tratamento ortodôntico, nos cursos de Pós-graduação em Ortodontia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e que tinham buscado o tratamento por iniciativa própria, sem a indicação de outro profissional.

RESULTADOS

Os resultados estão dispostos no gráfico 1, representando, em índices percentuais, a distribuição dos principais fatores de motivação dos pacientes adultos para buscarem tratamento ortodôntico.


O maior interesse dos pacientes esteve relacionado com as mudanças no posicionamento dentário, principalmente em relação aos dentes anteriores (mencionado por 81% da amostra como principal meta do tratamento). Entre os dentes anteriores, os superiores foram alvo de maiores preocupações por parte dos entrevistados e a queixa em relação aos dentes posteriores apareceu em apenas 24% da amostra, demonstrando a maior preocupação com a estética, em detrimento da função mastigatória.
Dos itens do questionário que forneceram informações a respeito das alterações faciais, o que foi mais percebido pelos pacientes relaciona-se com o sorriso gengival e excesso de exposição dos incisivos (17%). Por outro lado, poucos indivíduos mencionaram interesse em fazer com que seus incisivos superiores aparecessem mais durante o sorriso.
A percepção com relação ao deslocamento da mandíbula no sentido sagital e transversal, para correção da assimetria facial, foram ambos referidos por apenas 7% dos indivíduos da amostra. Já a percepção de assimetria de linha média superior foi notada por 11% dos indivíduos. De importante consideração foi que, no total, 76% da amostra não apresentaram queixa da aparência facial e isto gerou o questionamento se esta porcentagem vai ao encontro dos casos que são indicados para cirurgia. Mesmo no item relacionado à face, a maior porcentagem de queixa esteve relacionada com os dentes.
Com relação à sintomatologia, a sensibilidade dolorosa nos dentes apareceu como a queixa mais freqüente (21%), provavelmente relacionada com o hábito parafuncional de apertamento dentário e/ou bruxismo. Em segundo lugar, apareceram as queixas na região das orelhas e do pescoço. 

CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos podemos concluir que:
1) A estética relacionada ao posicionamento dentário é o fator que exerce maior influência sobre a motivação dos pacientes adultos a buscarem o tratamento ortodôntico.
2) Houve pouca percepção das anomalias esqueléticas por parte dos pacientes entrevistados (apenas 7% da amostra).
3) A principal meta de tratamento apontada foi a correção de problemas envolvendo os incisivos superiores.
4) A sintomatologia dolorosa apareceu como o segundo maior fator motivador.


Artigo na íntegra via Scielo:

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