quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Aparelho pré-ajustado e suas Prescrições: Parte 1.

Brito Júnior VS, Ursi WJS. O aparelho pré-ajustado: sua evolução e suas prescrições. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 2006;11(3):104-156.

Com a expansão da indústria de aparelhos ortodônticos, há uma variedade de modelos de braquetes e de prescrições para o posicionamento dentário, possibilitando ser aplicado em cada caso dependendo de suas necessidades e facilitando a finalização do tratamento.

Portanto, faz-se necessário o entendimento das prescrições e possibilidades de tratamento que elas nos proporcionam. Segue abaixo um resumo de um artigo interessantíssimo e muito didádico publicado em 2006 por Vicente de Souza Brito Júnior e Weber José da Silva Ursi.

Aparelho Edgewise

Edward Angle JPG

Edward Hartley Angle, foi um homem que dedicou intensamente ao estudo da movimentação dentária. Criou uma classificação para as más oclusões baseada no posicionamento mésio-distal dos primeiros molares superiores e inferiores.

Angle inventou e patenteou inúmeros dispositivos para terapia ortodôntica. Entre alguns estava o Arco E, que consistia em um arco vestibular pesado de expansão unido por soldas a duas bandas parafusadas nos dois primeiros molares.

arco e

Em 1991, lançou o aparelho de pino e tubo para movimentação unitária dos dentes e em 1913  desenhou o aparelho arco cinta que possui braquetes com encaixes verticais no sentido ocluso-gengival.

aparelho pino e tubo

Posteriormente, modificou a posição dos braquetes fazendo com que sua canaleta mudasse do sentido vertical para o horizontal. O arco era preso aos braquetes por um amarrilho de latão e posteriormente por delicadas ligaduras de aço. Introduziu também fios de secção retangular na mecânica. Surgia o novo aparelho Edgewise ou arco de canto.

Prescrição de Andrews

Andrews através de seus estudos determinou quais metas terapêuticas a serem alcançadas e estabeleceu as posições mais adequadas para os dentes sob o ponto de vista anatômico. Além disso, determinou uma linha de referência na coroa dentária para o posicionamento do braquete, o que denominou de eixo vertical da coroa clínica (EVCC), que trata-se de uma linha que corta a coroa clínica verticalmente paralela às faces proximais.

Idealizou também o plano de Andrews que compreende uma reta que passa pelos pontos centrais do EVCC de cada elemento dentário.

plano de andrews

Andrews criou um aparelho de natureza tridimensional, incluindo torques e angulações individualizadas, constituído de braquetes que já possuíam no seu desenho as características ideais de cada elemento dentário.

Observou que quando era necessário movimento dentário de translação, como nos casos envolvendo exodontias, os dentes, ao final do tratamento, exibiam alterações em suas posições. Com isso criou braquetes que possuíam já anti-rotações e angulações diferentes das originais, para grandes e pequenos deslocamento, isso resultou nas 11 prescrições de Andrews.

As anti-rotações consistem em construir bases dos braquetes mais espessas na mesial ou distal, dependendo da direção da rotação que se quer incorporar no dente, para compensar o giro provocado pela translação.

As anti-angulações são modificações (aumento ou diminuição) nas canaletas dos braquetes, que se opõem ao movimento indesejado de angulação que o dente sofre quando é transladado.

antirotacao

antirotacao

Portanto foram criadas as seguintes modificações:

  • Braquete Standard (S): conjunto de braquetes com torque, angulação e rotações idênticos aos da prescrição padrão elaborada por Andrews resultante do estudo de 120 modelos de oclusão normal natural.

angulos e inclinacoes padrao

  • Braquetes de translação mínima (T1): braquetes com modificações nas suas angulações, torques e rotações destinadas a dentes que irão sofrer pouca translação. As modificações (T1, T2, T3) variam de acordo com os dentes (caninos, pré molares e molares).
  • Braquetes de translação média (T2): para casos que irão sofrer uma quantidade média de translação. O primeiro pré-molar recebe uma prescrição diferenciada do segundo pré-molar pois, quando se planeja exodontia de segundo pré-molar, geralmente está se planejando também alguma quantidade de perda de ancoragem dos molares, e o primeiro pré-molar que permanece na boca irá ser, pela lógica, transladado para a distal, assim como o canino, pois ambos situam-se mesialmente. Pré e canino recebem uma angulação aumentada em seu braquete para evitar que sua coroa sofra inclinação para a distal, já que no movimento de translação distal estes dentes podem sofrer esse efeito indesejado.
  • Braquetes de translação máxima (T3): braquetes com modificações nas suas angulações, torques e rotações destinadas a dentes que irão sofrer uma grande quantidade de deslocamento. Para os primeiros prés-molares não há prescrição diferenciada pois quando se extrai os segundos prés, deseja-se normalmente uma perda de ancoragem dos molares também.
  • Tubos para molares Classe II(T4): criou acessórios específicos para situações onde se planeja terminar o caso com relação molar Classe II para evitar a interferência da cúspide disto-lingual do primeiro molar superior no sulco central do primeiro molar inferior.

tabela padraotranlacao minima tabela

tranlacao media e maxima tabela

molar t4

Então, utilizando todos esses tipos de braquetes criados, criou um protocolo de tratamento para cada tipo de caso de acordo com o tipo de movimentação desejada.

1) Nos casos de deficiência de espaço de 0 a 6mm, todos os elementos usariam braquetes padrão.

padrao boca

2) Nos casos de falta de 6mm de espaço no arco, requerendo tratamento com exodontia de segundos prés-molares e translação recíproca do segmento posterior e anterior, são utilizados braquetes de translação média (T2) em caninos, pré e molares, e standard nos demais.

translacao media boca

3) Nos casos com deficiência de espaço de –7 a –8mm, a ser tratada com exodontia de primeiros prés-molares e translação recíproca dos segmentos anterior e posterior, são usados braquetes de translação média (T2) nos caninos, segundos pré e molares.

translacao media boca 2

4) Em casos com falta de espaço da ordem de -9 a -10mm, a ser tratada com extração de primeiros pré-molares, nos quais se quer maior translação do canino para a distal do que do segmento posterior para a mesial, são usados braquetes de translação máxima (T3) nos caninos e de translação média nos posteriores.

translacao maxima boca
5) Com uma discrepância de modelo negativa de -11 a -13mm, onde se planeja a exodontia de primeiros pré-molares e se quer grande translação do canino e quase nada de translação mesial
do segmento posterior, são usados braquetes de translação máxima (T3) para os caninos e acessórios de translação mínima para os posteriores.

5

6) Quando há falta de espaço de -14mm, a ser tratada com extração de primeiros pré-molares e se quer distalização total do canino e nada (ou o mínimo) de mesialização do segmento posterior, são usados braquetes de translação máxima para os caninos (T3), acessórios de translação mínima nos segundos pré-molares (T1) e tubos standard nos molares.

6
7) Com falta de espaço de -14mm, como no caso anterior, mas quando se quer terminar com uma relação molar de Classe II e se quer distalizar totalmente os caninos com o mínimo ou nada de mesialização do segmento posterior, são utilizados braquetes de translação máxima nos caninos (T3), de translação mínima nos segundos pré-molares (T1) e tubos destinados a verticalizar os molares (T4).

7

8) Para casos tratados com exodontias de primeiros pré-molares, com translação mesial total dos posteriores juntamente com o mínimo ou nenhum movimento distal dos caninos, são usados braquetes de translação máxima no 2º pré e molares (T3) e translação mínima (T1) nos caninos.

8

9) Esta prescrição é recomendada para casos onde exista excesso de espaço de +1 a +4mm e pouca translação mesial dos posteriores é necessária (0,5 - 2mm). São usados braquetes standard nos incisivos, caninos e primeiro pré-molar, juntamente com braquetes de translação mínima (T1) no segundo pré e molares.

9

10) Para casos com excesso de espaço da ordem de +5 a +8mm, em que se quer uma translação mesial de magnitude média dos dentes posteriores, são utilizados braquetes standard para os anteriores até o primeiro pré-molar e acessórios de translação média no segundo pré e molares (T2).

10

11) Para casos com excesso de espaço de +9 a +14mm, em que se quer grande translação dos dentes posteriores (de 4,5 a 7mm por lado) junto com a estabilização do segmento anterior, são utilizados acessórios standard nos anteriores, caninos e primeiro pré-molar aliado com braquetes de translação máxima nos posteriores (T3). Para efetuar o tratamento das desarmonias de bases ósseas de Classe II e de Classe III com compensações dentoalveolares (logicamente, aquelas de magnitude tal que seja possível o tratamento por meio de compensações), Andrews fez modificações nos torques dos incisivos superiores e inferiores para compensar a desarmonia basal óssea. Deste modo teremos braquetes distintos de incisivos superiores e inferiores para o tratamento de má oclusão de Classe II e Classe III.

11

12