sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Análise Facial Subjetiva

Reis SAB, Abrão J, Capelozza Filho L, Claro CAA. Análise facial subjetiva. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 2006;11(5):159-172.

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face longa

face curta

Artigo publicado na Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, no ano de 2006 (11(5):159-172), pelos autores Sílvia Augusta Braga Reis, Jorge Abrão, Leopoldino Capelozza Filho, Cristiane Aparecida de Assis Claro.

A necessidade científica e didática de estabelecer valores de normalidade para as inúmeras medidas lineares, angulares e proporcionais avaliadas em telerradiografias ou mesmo fotografias da face distanciaram o ortodontista da avaliação individual de cada face, princípio primário do diagnóstico, e levaram, muitas vezes, a opções de tratamento equivocadas que buscavam metas erroneamente definidas.

Em 1953, Tweed reavaliou seus casos tratados em 25 anos, seguindo a filosofia proposta por Angle, de que a melhor harmonia facial seria obtida com todos os dentes em oclusão, assim observou que apenas 20% dos pacientes apresentavam oclusão normal e adequada harmonia facial. A maioria deles portava desarmonia facial, devida à protrusão exagerada dos incisivos, exigindo retratamento. O equilíbrio foi então obtido às custas de exodontias, contrariando todas as filosofias vigentes até então.

A posição do incisivo inferior, avaliada na telerradiografia do perfil, passou então a definir a necessidade de exodontias a fim de obter um ângulo entre o longo eixo do incisivo inferior e o plano palatino de 90º ± 5º. Segundo Tweed, esse parâmetro estava relacionado à estética facial agradável.

A utilização destes e outros parâmetros cefalométricos na definição dos planos de tratamentos resultou em extrações desnecessárias e iatrogenias na estética facial, identificadas por autores da literatura norte-americana como dish face ou face côncava.

A perspectiva atual da prática e da pesquisa odontológica exige que o profissional se aproxime das expectativas do seu paciente ao definir a melhora da estética facial e do sorriso como o principal objetivo do tratamento, e a avaliação direta da face do paciente como seu principal recurso diagnóstico, a qual permite observar as características faciais harmoniosas e desarmoniosas como o paciente é avaliado por si mesmo e pelos seus pares.

Ao paciente, definitivamente, não interessa que os ângulos e proporções de sua face estejam dentro de um “padrão de normalidade” se este padrão não se adequar às suas características étnicas e individuais.

A principal aspiração do paciente é ser reconhecido como bonito, ou no mínimo normal, por si mesmo e pela sociedade, eliminando características desagradáveis do sorriso e de sua face.

A organização do diagnóstico ortodôntico de acordo com os Padrões Faciais permite abordar o tratamento das más oclusões, considerando a localização da discrepância esquelética, quando presente, a etiologia da má oclusão, estabelecendo protocolos de tratamento específicos para cada Padrão em cada faixa etária, com protocolos em curto prazo e perspectivas em longo prazo previsíveis, considerando a gravidade da discrepância.

Os benefícios dessa nova visão da Ortodontia dependem, entretanto, do diagnóstico adequado do Padrão Facial. Considerando a limitação das medidas faciais em expressar forma ou normalidade, a classificação do Padrão deve ser realizada pela avaliação morfológica da face nas visões frontal e lateral.

Os indivíduos podem ser classificados como Padrão I, II, III, Face longa ou Face curta.

PADRÃO I

O Padrão I é identificado pela normalidade facial. A má oclusão, quando presente, é apenas dentária não associada a qualquer discrepância esquelética sagital ou vertical. Os Padrões II e III são caracterizados pelo degrau sagital respectivamente positivo e negativo entre a maxila e a mandíbula. Nos Padrões face longa e face curta a discrepância é vertical. Nos pacientes com erros esqueléticos, as más oclusões são geralmente conseqüentes dessas discrepâncias.

Na avaliação do perfil, o Padrão I é caracterizado por um grau moderado de convexidade. A expressão da maxila na face é identificada pela presença da projeção zigomática e depressão infraorbitária, que podem ser verificadas também na visão frontal. A linha de implantação do nariz, levemente inclinada para anterior, denota adequada posição maxilar. O sulco naso-geniano com leve inclinação posterior completa a avaliação do equilíbrio maxilar. O ângulo nasolabial avalia a base nasal em relação ao lábio superior, cuja posição é fortemente determinada pela inclinação dos incisivos superiores. Portanto, esse ângulo pode estar adequado, aberto ou fechado nos pacientes Padrão I, como conseqüência da posição dos dentes anteriores superiores, independente do bom posicionamento maxilar, sempre observado neste pacientes.

O equilíbrio mandibular, tamanho, forma e posição, podem ser verificados na avaliação do perfil por meio da linha queixo-pescoço. Ela deve ser expressiva sem ser excessiva e tender ao paralelismo com o Plano de Camper. Esse paralelismo contribui para um ângulo adequado entre as linhas do queixo e do pescoço. Além disso, espera-se um ângulo mentolabial agradável esteticamente e construído com igual participação do lábio e do mento.

Os pacientes portadores dos Padrões II e III apresentam discrepância sagital entre a maxila e a mandíbula, identificada, principalmente, na avaliação lateral da face. Indivíduos classificados como Padrão I na visão frontal e II ou III no perfil apresentam melhor prognóstico que aqueles Padrões II ou III nas visões frontal e lateral, nos quais o desequilíbrio é grave o suficiente para ser identificado na avaliação de frente, devido às suas conseqüências verticais.

PADRÃO II

O Padrão II apresenta convexidade facial aumentada, em conseqüência do excesso maxilar, mais raro, ou pela deficiência mandibular.

Normalmente, observa-se uma maxila com boa expressão na face, enquanto o terço inferior está deficiente e com a linha queixo-pescoço curta.

Apresenta, usualmente, um ângulo nasolabial bom, associado ao sulco mentolabial marcado pela eversão do lábio inferior.

PADRÃO III

No Padrão III a convexidade facial apresenta-se reduzida, resultando em um perfil reto ou mais raramente côncavo devido à deficiência maxilar, ao prognatismo mandibular ou à associação de ambos.

O terço médio da face tende a parecer deficiente, mesmo que esteja normal, pois o excesso mandibular desloca para anterior o tecido mole da maxila, mascarando a leitura da projeção zigomática.

O terço inferior da face tende ao aumento, principalmente no prognatismo e a linha queixo-pescoço apresenta-se normal nos deficientes maxilares ou em excesso nos prognatas.

O sulco mentolabial encontra-se aberto, devido à verticalização compensatória dos incisivos inferiores.

PADRÃO FACE LONGA

Os pacientes classificados como Padrões Face Longa e Face Curta apresentam uma discrepância vertical visível nas avaliações de frente e perfil.

O paciente Padrão Face Longa é caracterizado pelo excesso na altura facial, resultando em ausência de selamento labial, excesso de exposição de dentes no repouso e de gengiva no sorriso. A convexidade facial desses pacientes está aumentada, a expressão maxilar é deficiente e a linha queixo- pescoço curta.

O paciente Padrão Face longa tem deficiência na expressão sagital da maxila e da mandíbula, que apresentam direção de crescimento predominantemente vertical.

PADRÃO FACE CURTA

O paciente Padrão Face Curta é identificado pela deficiência nas dimensões verticais, lábios comprimidos, maxila com expressão adequada e excesso da linha queixo-pescoço, devido à rotação anti-horária da mandíbula.

A convexidade do perfil está, normalmente, reduzida e o paciente apresenta pouca exposição dos incisivos superiores no repouso e no sorriso.

A utilização dos conceitos já estabelecidos pela literatura ortodôntica, aplicados sob essa nova perspectiva, permite maior previsibilidade aos tratamentos ortodônticos e tranqüilidade ao profissional, que se torna apto a utilizá-los.

 

Artigo na íntegra via Scielo:

www.scielo.br/pdf/dpress/v11n5/a17v11n5.pdf

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