terça-feira, 4 de julho de 2017

Eficiência do tratamento com braquetes autoligados: Evidências clínicas.

Pandis N, Miles PG. Treatment Efficiency with Self-Ligating Brackets: The Clinical Evidence. Semin Orthod 2010;16:258-265.

O primeiro braquete autoligado foi descrito por Stolzenberg em 1935. Nas décadas posteriores, várias marcas introduziram os acessórios autoligados em seu catálogo, de maneira que todas grandes companhias ortodônticas possuem um modelo disponível aos seus consumidores.

A indústria ortodôntica argumenta a favor dos braquetes autoligados e em relação à eficiência do tratamento os seguintes fatores:

  • Braquetes autoligados reduzem o tempo da consulta.

  • Braquetes autoligados reduzem o tempo de tratamento.

A partir destas surgem outros questionamentos:

  • Como esses benefícios sugeridos pelos fabricantes podem ser mensurados e provadas de maneira científica?

  • Será que os braquetes autoligados retornam o que prometem aos pacientes e aos ortodontistas?

  • Será que realmente superam os braquetes convencionais?



Tempo de consulta reduzido


Inúmeros estudos têm explorado a eficiência da troca de arcos com os braquetes autoligados.

Shirapuva e Berger avaliaram prospectivamente os modelos Activa (“A” Company, Johnson & Johnson, San Diego, CA), Edgelok (Ormco, Glendora, CA), e SPEED sistemas de braquetes autoligados e encontraram uma economia significante do tempo de cadeira em comparação aos braquetes convencionais.

Por outro lado, Harradine, em um estudo retrospectivo, observou economia insignificantes no tempo de troca de arcos entre os modelo autoligado e o convencional.

Berger e Byloff, em uma pesquisa via correio, encontraram que ligaduras de aço (SS) necessitavam de 6 a 7 minutos por arco, elastics por volta de 2 minutos, enquanto com os autoligados o tempo necessário foi menor que 1 minuto.

Turnbull e Birnie compararam a duração na troca de arcos entre os modelos de braquetes autoligados Damon2 com o método convencional com elastics e verificaram redução de aproximadamente para metade no tempo de troca de arcos.

Paduano e colaboradores também verificaram uma eficiência para troca de arcos no sistema autoligado em relação ao convencional com ligaduras elásticas.

Apesar da limitada evidência científica, o sistema de braquetes autoligados parece ter potencial para reduzir a duração da consulta para pacientes e clínicos. Entretanto, essa modesta economia de tempo representa somente uma porção do tempo total de cadeira durante a consulta ortodôntica. Dependendo da utilização de sua equipe de trabalho e da demanda de pacientes esse benefício pode não ter impacto no atendimento.


Duração do tratamento

Entre os primeiros estudos publicados sobre eficiência de tratamento com os braquetes autoligados está o de Eberting e colaboradores em 2001. Esse estudo clínico retrospectivo comparou a efetividade, qualidade e eficiência clínica da primeira geração de autoligados Damon SL com os convencionais. Os autores observaram que casos montados com Damon SL terminaram significantemente mais rápido e requereram menos visitas para completar seus tratamentos. Também obtiveram resultados de menor qualidade com o Damon SL em comparação com o sistema convencional.

Hamilton e colaboradores conduziram um estudo retrospectivo com uma amostra de 762 pacientes, tratados com  acessórios autoligados In-Ovation ou convencional. Encontraram uma duração média de tratamento de 15,7 meses e quantidades semelhantes de tempo foram gastos em arcos retangulares e redondos por ambos os aparelhos. No geral, não foi estatisticamente significativa a diferença entre as durações de tratamento com brackets autoligáveis  (15,6 meses, SD 4,4 meses) e convencionais (15,9 meses, DP 6,1 meses).

Harradine, comparou também o tempo de tratamento utilizando o modelo Damon SL e os braquetes convencionais. O autor observou uma redução no tempo de tratamento com autoligados.

A redução no tempo de tratamento reportado por Eberting (em média 25 meses) com o uso do modelo Damon SL ainda mostrou-se maior que o encontrado utilizando braquetes convencionais (23,5 meses) durante tratamento reportado por Harradine. Essa diferença no tempo total de tratamento pode ser atribuído à escolha do sistema de tratamento e não pelo modelo do braquete.

Portanto, pode não haver uma economia de tempo e as diferenças relatadas podem ser devido a outros fatores, tais como a alteração na mecânica ou viés durante o tratamento.

Miles e colaboradores publicaram 2 estudos prospectivos com metodologias similares comparando os braquetes convencionais e os autoligados. O primeiro estudo envolveu 60 pacientes; colaram em um lado da arcada os brackets Damon2 e do outro brackets edgewise convencionais. Após a utilização de 2 arcos, cada um por um período de 10 semanas, observaram que o sistema convencional foi mais eficiente que o Damon2, apresentando menos irregularidades no alinhamento dentário apesar da diferença clínica ser mínima.

O estudo também constatou que os pacientes preferiram a estética do braquete convencional que o Damon2 e que o Damon2 apresentou maior falha de colagem durante o estudo.

Em um segundo estudo, Miles comparou os braquetes SmartClip (3M Unitek) e convencionais Edgewise. E após 20 semanas encontrou resultados similares, onde não observou diferença significativa entre os dois modelos de acessórios.

Pandis e colaboradores avaliaram a eficiência do Damon2 e dos brackets convencionais para alinhamento e mudança das arcadas dentárias. Observaram que em alguns casos o Damon2 mostrou-se mais rápido em atingir o alinhamento, mas a vantagem era de ínfima significância clínica, o Damon2 precisou de 104 dias enquanto o sistema convencional 125 para resolver apinhamento anterior inferior severo.

Scott e colaboradores comparou a eficiência do alinhamento dental e efetividade clínica do Damon3 e do sistema convencional utilizando uma sequência de arcos idêntica. Os autores não observaram diferença significativa no alinhamento entre os dois modelos de acessórios. O Damon3 precisou de 253 dias para atingir o arco final 0.019x0.025 polegadas de aço, enquanto o sistema convencional de 243 dias.

Concluiu-se que, com os estudos revisados disponíveis, não há evidências que os braquetes autoligados diminuem o tempo de tratamento, quando observado em alguns casos diferenças significativas, essas eram clinicamente mínimas.


Retração de caninos para fechamento de espaços


Os autores concluíram que a literatura ainda não confirma a idéia que o sistema autoligado aumenta a velocidade do fechamento de espaços quando é necessária a mecânica de deslizamento. O menor atrito e a movimentação mais rápida dos dentes in vitro não resulta necessariamente o mesmo na clínica devido as diferenças biológicas que existem in vitro e in vivo.





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