terça-feira, 22 de março de 2011

Mordida cruzada anterior dentoalveolar


Artigo publicado na revista Gaúcha de Odontologia, pelos autores Armando Yukie Saga, Michelle Santos Vianna, Alessandra Ehlke Madruga e Orlando Tanaka, no ano de 2003 (51(2):95-103, abr/maio/jun).

A mordida cruzada anterior dentária, na fase de dentição mista, destaca-se nos exames de rotina de clínicos gerais, odontopediatras e fonoaudiólogos. Do ponto de vista da oclusão, cabe ao clínico geral a identificação, o diagnóstico e até mesmo a interceptação desta maloclusão.
Para MOYERS (1991), a mordida cruzada é uma alteração na relação oclusal lateral ou anterior, e pode ser resultante de problemas nas inclinações axiais dos dentes, no crescimento alveolar, na desarmonia entre a maxila e a mandíbula ou, ainda, resultante de um ou mais dentes superiores irrompidos lingualmente em relação aos dentes inferiores com os quais deveriam fazer oclusão. A mordida cruzada anterior dentoalveolar origina-se quando os incisivos superiores se apresentam inclinados para lingual e/ou os incisivos inferiores inclinados para vestibular, em pacientes com características de Classe I de ANGLE (1907). A mordida cruzada anterior esquelética está relacionada com padrão basal de Classe III, no qual está presente retrognatismo maxilar, prognatismo mandibular ou uma combinação de ambos.
Os objetivos do tratamento ortodôntico preventivo ou interceptativo incluem eliminação de fatores etiológicos da maloclusão e o impedimento da progressão dos desvios esqueléticos, dentários e funcionais. Há um consenso entre os autores sobre o fato de que a mordida cruzada se desenvolve de modo prematuro e não se autocorrige. Portanto, uma vez instalada na dentição decídua, permanece durante o desenvolvimento na dentição mista até a dentição permanente. Em virtude disso, a mesma deve ser tratada assim que diagnosticada para que o equilíbrio funcional seja restaurado, fornecendo um ambiente equilibrado para o crescimento normal do complexo dentofacial. A correção prematura é indicada ainda, porque mordidas cruzadas anteriores podem causar desgastes nas faces vestibulares dos incisivos superiores e recessões gengivais nos incisivos inferiores.
A mordida cruzada anterior pode apresentar fator predisponente no desenvolvimento de maloclusão Classe III se dois ou mais dentes estiverem envolvidos. Nesse caso recomenda-se conferir a relação molar em relação cêntrica e em máxima intercuspidação habitual. É essencial a diferenciação entre a mordida cruzada localizada e a mordida cruzada com característica de maloclusão mais generalizada, onde existe uma desarmonia esquelética no sentido ântero-posterior envolvida.
Ao se diagnosticar uma maloclusão decorrente de fatores hereditários ou padrões intrísecos e extrínsecos, certos procedimentos clínicos devem ser tomados para se diminuir a severidade da maloclusão e, em alguns casos, eliminar sua causa.

Conduta Clínica:

Para a correção do incisivo central superior direito em mordida cruzada, todas ferramentas devem ser utilizadas, com todos elementos de diagnóstico participando dos atos de reconhecer, eliminar e modificar as maloclusões que podem prejudicar o curso genético normal da biogênese; restabelecer a saúde gengival e periodontal dos dentes envolvidos e devolver a liberdade de movimentos mandibulares.
A conduta clínica, em relação ao aparelho a ser utilizado, deve levar em consideração o número de dentes envolvidos, e a correção deve ser realizada na maxila, onde se encontra o dente mal posicionado. Desde que se assuma ser um problema local com vários aparelhos podem ser sugeridos.
Sugere-se que os procedimentos inteceptativos podem ser de fácil execução, mas sabe-se também que a intereceptação pode exigir conhecimentos sobre a mecânica ortodôntica, desde aparelhos removíveis, até os aparelhos ortodônticos fixos. Supõe-se que seja mais fácil a interceptação das mordidas cruzadas anteriores ainda em desenvolvimento do que após sua completa instalação. Se o clínico geral for feliz em antecipar a irrupção de um incisivo superior em posição lingual, poderia orientar o paciente, pais ou responsáveis para posicionar um palito de madeira ou um abaixador de língua, de maneira a apoiá-lo sobre a superfície vestibular do dente inferior, opondo ao dente em mordida cruzada.
O aparelho removível superior preconizado é constituído por grampos de retenção circulares, interproximais, uma mola digital dupla hélice em cantilever, todos envoltos em acrílico autopolimerizável e com batente oclusal ou plano de mordida. Quando o dente estiver totalmente irrompido, ou quando a sobremordida for excessivamente profunda, o referido plano ou batente de mordida tem o objetivo de eliminar o bloqueio provocado pelo cruzamento e deve ser utilizado apenas durante a fase de movimentação do dente cruzado.
A ativação deve ser realizada no momento da instalação do aparelho e quantas vezes forem necessárias. Trata-se, portanto, de uma interceptação mecânica voltada para a clínica geral.
Para a interceptação de qualquer maloclusão o profissional deve organizar os conhecimentos teóricos e práticos dentro de uma abordagem tridimensional, com vistas a proporcionar aos pacientes: saúde, estética, função e estabilidade do complexo dentofacial.


Artigo na íntegra para download no site da Revista Gaúcha de Odontologia:



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