sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dimensões nasofaringeanas e faciais em diferentes padrões morfológicos


 
Artigo publicado na revista Dental Press Journal of Orthodontics, no ano de 2010 (May-June;15(3):52-61), pelos autores Murilo Fernando Neuppmann Feres, Carla Enoki, Wilma Terezinha Anselmo-Lima, Mirian Aiko Nakane Matsumoto.

Este estudo propõe-se a comparar as dimensões da nasofaringe e as características esqueléticas avaliadas por exame cefalométrico, em indivíduos com padrões morfológicos distintos. 

Uma das maiores dificuldades encontradas pelos pesquisadores tem sido determinar o verdadeiro papel desempenhado pela obstrução da via aérea no desenvolvimento das características craniofaciais. Alguns autores consideram a respiração oral como o principal fator etiológico no desenvolvimento da “síndrome da face longa”, outros dizem que essas características faciais são resultantes da expressão da hereditariedade, e que a respiração oral não pode ser considerada como causa, mas sim um fator agravante dentro de um contexto que já é peculiar ao indivíduo com padrão dolicofacial. Considerando os trabalhos publicados até então não se pode afirmar com clareza se um tipo facial específico está diretamente relacionado a determinada capacidade respiratória de um indivíduo.
Dessa maneira, torna-se necessário esclarecer a possibilidade de pacientes de diferentes tipos faciais apresentarem dimensões nasofaringeanas distintas entre si. Tendo em vista a provisão de novas evidências que alimentem e auxiliem a resolução desse complexo tema, o presente estudo teve como objetivo comparar padrões faciais distintos, quanto às dimensões da nasofaringe e características esqueléticas demonstradas pelo exame cefalométrico.

Materiais e Métodos

Foram utilizadas telerradiografias em norma lateral de pacientes com idades entre 12 e 16 anos, de ambos os gêneros. Foram desconsideradas, para composição da amostra final, as radiografias dos pacientes que haviam sido submetidos à cirurgia de adenoidectomia ou que haviam sido submetidos a tratamento ortodôntico em período prévio à realização da radiografia. As radiografias selecionadas foram distribuídas em três grupos constituídos de 30 sujeitos cada, de acordo com os padrões morfológicos apresentados pelos pacientes (braquifacial, mesofacial e dolicofacial). O critério utilizado para a divisão das radiografias em grupos foi a medida do eixo facial (BaN.PtGn), indicativa da direção de crescimento mandibular, cujo valor normal é de 90°. Os grupos foram definidos levando-se em consideração a variação de 3° proposta por McNamara:
• braquifacial: valor do eixo facial < 87°;
• mesofacial: valor do eixo facial maior ou igual a 87° e menor ou igual a 93º;
• dolicofacial: valor do eixo facial > 93°.
Posteriormente, foram realizadas medidas cefalométricas esqueléticas angulares (NSBa, SN.GoGn, NSGn, SNA, SNB e ANB) e lineares (N-Me, ENA-Me e S-Go). Os índices derivados das medidas lineares foram assim calculados:
• iAF (S-Go/N-Me): índice de altura facial;
• iAFA (ENA-Me/N-Me): índice de altura facial
anterior.
Medidas referentes à nasofaringe15 foram feitas através da digitalização das imagens via scanner e armazenamento em arquivos digitais, para posterior leitura de dimensões no software Cad Overlay 2000 (Autodesk, EUA) (Fig. 1):
• ad1-Ptm: profundidade da via aérea através da nasofaringe;
• ad2-Ptm: profundidade da via aérea através da nasofaringe;
• ad1-Ba: espessura de tecido mole na parede posterior da nasofaringe pela linha Ptm-Ba;
• ad2-S0: espessura de tecido mole na parede posterior da nasofaringe pela linha Ptm- So;
• (ad1-ad2-S0-Ba-ad1/Ptm-S0-Ba-Ptm) X 100: área de tecido mole relativa à área da nasofaringe
óssea;
• Ptm-Ba: profundidade sagital da nasofaringe óssea.
As medições foram realizadas por um único ortodontista, treinado para tal e que desconhecia a que grupo cada uma das radiografias pertencia.

RESULTADOS

Os três grupos estudados apresentaram uma maioria de sujeitos do gênero masculino e com média etária entre 13 e 14 anos. Os mesmos não diferiram significativamente entre si, tanto em relação à composição por gênero quanto à por idade.

Medidas referentes à nasofaringe

Os grupos não diferiram entre si quanto à espessura de tecido mole na parede posterior da nasofaringe (ad1-Ba e ad2-So). Tampouco foram notadas quaisquer distinções em relação à área de tecido mole sobre a área da nasofaringe óssea [(ad1-ad2-S0-Ba-ad1/Ptm-S0-Ba-Ptm) X 100].
Para a medida ad2-Ptm (profundidade da via aérea através da nasofaringe), a discrepância
teve relevância estatística quando os dolicofaciais foram comparados aos braquifaciais. Já para a medida ad1-Ptm (profundidade da via aérea através da nasofaringe), foi detectada uma diferença significativa na comparação conjunta dos três grupos. Em comparação par a par, a diferença foi considerada mais expressiva, embora não estatisticamente significativa, quando dolicofaciais foram comparados aos mesofaciais. Mesofaciais e braquifaciais não diferiram entre si em relação a ambas as medidas relacionadas à profundidade da via aérea.
Em relação à profundidade sagital da nasofaringe óssea (Ptm-Ba), os pacientes dolicofaciais apresentaram médias estatisticamente menores do que as dos mesofaciais e braquifaciais. Esses dois últimos, no entanto, não diferiram significativamente entre si.

CONCLUSÃO

Pelos dados avaliados nos diferentes padrões faciais desse estudo, observou-se que os pacientes dolicofaciais apresentaram menor profundidade sagital óssea e menor profundidade de via aérea da nasofaringe, quando comparados a pacientes com padrões distintos. Sugere-se que essa diferença seja decorrente de um posicionamento distal da maxila comum aos pacientes de face longa. O posicionamento da maxila, distinto para cada grupo, foi acompanhado pela rotação da mandíbula — ora em sentido horário, no caso dos dolicofaciais; ora em sentido anti-horário, para braquifaciais —, o que exerceu influência sobre alturas e índices faciais, além de garantir uma adequada inter-relação maxilomandibular, independentemente do tipo facial analisado. A partir de uma revisão realizada, e de evidências demonstradas pelos resultados, considerou-se plausível atribuir a reduzida dimensão da via aérea nasofaringeana à expressão de caracteres faciais de natureza essencialmente vertical em pacientes dolicofaciais.

Artigo na íntegra via Scielo:

Nenhum comentário:

Postar um comentário