domingo, 21 de novembro de 2010

Mortalidade da apnéia obstrutiva do sono



Nesse artigo publicado pela revista da Associação Médica Brasileira, por R. Reimão, S.H. Joo; da clínica neurológica e otorrinolaringológica do Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo; Discute-se a taxa de mortalidade em pesquisas populacionais relacionadas a Síndrome de Apnéia do Sono do tipo Obstrutivo.
  
Obesidade

Os pacientes com SASO moderada ou severa e obesidade têm maior risco a médio prazo pois a mortalidade por morte súbita deste grupo é de 15% no seguimento de quatro anos, ao passo que a taxa de mortalidade esperada neste período é de 0,2%.

Hipertensão arterial sistêmica

Hipertensão arterial sistêmica está presente em 40% a 90% dos pacientes com SASO. Em ambulatório de hipertensão arterial, dentre pacientes previamente diagnosticados como tendo hipertensão essencial, em cerca de 30% diagnosticou-se SASO. Em casuística de pacientes hipertensos, comparada com controles normais, o resultado semelhante foi detectado, pois 1/3 dos hipertensos apresentaram SASO enquanto nenhum do grupo controle tinha SASO.
O tratamento com CPAP a longo prazo leva à redução da pressão arterial sistêmica, tanto durante a noite como durante o dia em pacientes hipertensos com SASO. Por outro lado, esta melhora não ocorre nos pacientes com SASO que deixam o CPAP por baixa adesividade ao tratamento.

Doenças cardiopulmonares

Dentre as conseqüências cardiopulmonares da SASO severa, são descritas hipertensão pulmonar, cor pulmonale, e insuficiência cardiorespiratória com hipoxemia e hipercapnia. Arritmias cardíacas são amiúde associadas às apnéias durante o sono.
As alterações de ritmo cardíaco mais observadas em pacientes com SASO são as oscilações de freqüência cardíaca, cíclicas, reduzindo e aumentando a freqüência cardíaca, denominada braditaquiarritmia, sendo descrita em mais de 75% dos pacientes com SASO. Ectopia ventricular é, da mesma forma, um achado comum descrito em 57% a 74% dos pacientes com SASO durante o sono. Bradiarritmias severas e taquiarritmias em associação com desaturação de oxihemoglobina têm sugerido que as disritmias cardíacas secundárias à hipoxemia seriam responsáveis pela morte súbita durante o sono em alguns pacientes com SASO.
Por outro lado, a SASO é um fator de risco para doença cardíaca isquêmica. Hillman estudou um grupo de 101 pacientes do sexo masculino após infarto agudo do miocárdio e comparou com controles da mesma idade sem patologia isquêmica cardíaca. Realizou análise estatística, ajustada para fatores de risco cardíaco (índice de massa corpórea, hipertensão, tabagismo). Constatou que índice de apnéias e índice de apnéias + hipopnéias foram fatores preditivos de infarto do miocárdio. Estes autores concluíram que a SASO é mais encontrada em pacientes com infarto do miocárdio do que no grupo controle e esta associação independe de outros fatores de risco coronarianos. Aventa a hipótese de SASO ser um fator de risco, provavelmente causal. Em relação à aterogênese e SASO, refere que hipertensão arterial sistêmica, ativação simpática e hipoxemia, próprios da SASO, são fatores há muito reconhecidos como aceleradores da aterogênese. Nesta casuística, o risco de infarto do miocárdio se mostrou diretamente proporcional ao grau de acometimento da SASO, pois pacientes com SASO severa tiveram 23,3 vezes maior probabilidade de desenvolverem infarto do miocárdio do que os controles normais.
Lavie et al., avaliando retrospectivamente 1.500 pacientes com SASO atendidos em um Centro de Distúrbios do Sono e submetidos a polissonografia, buscou verificar as causas de mortalidade em um período médio de 3,8 anos. Ocorreram 45 óbitos (5 mulheres; 44 homens), sendo a idade média do óbito de 59 anos. A causa descrita foi cardiovascular em 46,9% dos casos. O índice de apnéia foi, em média, 38/h e o índice de massa corpórea foi, em média, 30,7 kg/m2 para os que faleceram; no grupo controle, tais índices foram 28/h e 28,3 kg/m2respectivamente. Estes autores ressaltam que os pacientes com SASO faleceram precocemente do que o esperado em dados normativos da população geral.

Acidente vascular encefálico

No intuito de verificar as correlações entre acidente vascular encefálico e SASO, Dyke et al., em pesquisa recente, estudaram prospectivamente uma população de pacientes com acidente vascular encefálico (média de idade = 64 anos). Realizaram polissonografia e compararam com grupo controle pareado para idade e sexo. A polissonografia evidenciou que 77% dos pacientes com acidente vascular encefálico apresentavam SASO; no grupo controle, 23% tinham SASO.
Seguimento realizado ao longo de quatro anos mostrou mortalidade de 20,8% no grupo com acidente vascular cerebral. Todos os pacientes que faleceram tinham SASO. Estes autores concluem que o grupo com acidente vascular encefálico tende a apresentar mais SASO do que o grupo controle; SASO mostrou-se relacionada à maior mortalidade. Supõem poderem a hipóxia e as alterações hemodinâmicas predispor ao acidente vascular encefálico.

Álcool e acidentes de tráfego

Ingestão de álcool é reconhecida como um dos fatores de piora das apnéias, aumentando sua freqüência e duração, intensificando as arritmias cardíacas concomitantes e as reduções de saturação de oxigênio. Por outro lado, sua influência na mortalidade da SASO ainda está para ser determinada em estudos populacionais. De forma análoga, é reconhecido o papel da SASO como causadora de sonolência excessiva diurna, aumentando o risco de acidentes ao dirigir veículos. A mortalidade em acidentes de tráfego geralmente não é adicionada como deveria ser nos estudos populacionais de SASO que se restringem a contabilizar os óbitos ocorridos durante o sono.


Artigo na íntegra via Scielo:


Nenhum comentário:

Postar um comentário