segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Características cefalométricas dos indivíduos Padrão I

Artigo publicado na Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, no ano de 2005 (Maringá, v. 10, n. 1, p. 67-78, jan./fev.), pelos autores Sílvia Augusta Braga Reis, Leopoldino Capelozza Filho, Maurício de Almeida Cardoso e Marco Antônio Scanavini.

 As características cefalométricas de uma amostra de 30 pacientes brasileiros, adultos, leucodermas, Padrão I, selecionados a partir da avaliação morfológica de fotografias do perfil, foram estudadas em telerradiografias laterais com o objetivo de definir um padrão de referência, considerando-se as médias e, principalmente, os desvios padrões para estudos comparativos com amostras portadoras de discrepâncias esqueléticas. Na avaliação do padrão de crescimento facial obteve-se 9,4°± 3,2° para o ângulo do plano palatino e 121,4°± 5,3° para o ângulo goníaco, ambos apresentando dimorfismo sexual. O ângulo do plano mandibular apresentou média de 29,2°± 4,2°, sem diferença entre os gêneros. Os valores obtidos para as alturas faciais total, inferior, média e posterior foram, respectivamente, 123,0mm± 8,3mm; 68,8mm± 6,6mm; 55,9mm± 3,5mm e 62,6mm± 4,7mm. Todas essas variáveis foram significativamente maiores no gênero masculino. Os valores das medidas que definiram a relação maxilo-mandibular corroboraram o equilíbrio esquelético da amostra, pois observou-se 82,2° ± 2,9° para o SNA; 79,8° ± 2,5° para o SNB e 2,4° ± 1,4° para o ANB, sem dimorfismo sexual. Os valores obtidos para os comprimentos efetivos da maxila e da mandíbula foram 95,2mm ± 5,7mm e 124,2mm ± 8,2mm, respectivamente, sendo as variáveis do gênero feminino significativamente menores que as do masculino. Os incisivos superiores e inferiores apresentaram-se mais inclinados que as médias da literatura, ou seja, 115,2° ± 5,5° para o 1.PP e 93,9° ± 5,7° para o IMPA.

Favorecido pela normalidade das relações esqueléticas estabelecidas geneticamente e perpetuadas pelo crescimento, o paciente Padrão I foi definido por Capelozza Filho como o indivíduo normal com má oclusão, denominado anteriormente por Andrews como o portador de má oclusão normal. Contrariamente aos indivíduos Padrão II, Padrão III, Padrão Face Longa e Padrão Face Curta, os pacientes objeto de estudo desse artigo não apresentam discrepância esquelética, seja ela sagital ou vertical que, geneticamente determinadas, maculam de forma característica o posicionamento dentário. Assim, a má oclusão nos indivíduos Padrão I é decorrente de desarranjo dentário, geralmente relacionado a fatores etiológicos ambientais, exceto nos paciente com discrepâncias dente-osso positiva ou negativa. Ou seja, nos pacientes Padrão I " o erro dentário é primário, ou a essência da doença" , por isso mesmo inespecífico e dificilmente identificado pela análise facial do paciente.
Na análise morfológica frontal, os portadores de Padrão I apresentam simetria aparente, distância intercanto medial dos olhos similar à largura do nariz, distância interpupilar similar à largura da comissura bucal, proporção entre os terços faciais, altura do lábio superior equivalente à metade da altura do lábio inferior, volume proporcional de vermelhão dos lábios e selamento labial passivo, o qual pode estar comprometido nos pacientes acometidos por protrusão da arcada dentária superior.
O equilíbrio mandibular, tamanho, forma e posição, pode ser verificado na avaliação do perfil por meio da linha queixo-pescoço. Ela deve ter um tamanho normal e tende ao paralelismo com o Plano de Camper. Esse paralelismo contribui para um ângulo adequado entre as linhas do queixo e do pescoço. Além disso, espera-se um ângulo mentolabial agradável esteticamente e construído com igual participação do lábio e do mento.
No paciente Padrão I, como anteriormente dito, a má oclusão é primária, ou a essência da doença, portanto esses pacientes podem apresentar qualquer erro no posicionamento dentário, seja transversal, ântero-posterior ou vertical, sem envolvimento esquelético, e normalmente, não identificados pela análise facial. Exceção freqüente a essa observação é o desequilíbrio labial ântero-posterior causado pela protrusão dentária superior.
A introdução do conceito de Padrão demanda o estudo de cada um deles para o estabelecimento de suas características faciais, base para o diagnóstico, oclusais e cefalométricas. Ainda sem usar esta nomenclatura, mas utilizando o critério da morfologia facial para a seleção dos pacientes, estudos já foram realizados definindo os parâmetros cefalométricos dos pacientes Padrão II e Padrão III. Os trabalhos sobre os Padrões Face Longa e Face Curta estão em desenvolvimento e serão publicados em breve. Por hora, vimos estudar as características cefalométricas de uma amostra de indivíduos Padrão I. 
Uma das validades dos estudos cefalométricos é quantificar erros de amostras discrepantes comparando-os com valores normativos. Entretanto, deve-se considerar as características das amostras a partir das quais estas normas foram definidas. A princípio, as mesmas deveriam ser estabelecidas para cada população, devido às características peculiares de cada grupo, decorrentes, principalmente, da miscigenação. Outra consideração é o critério de seleção da amostra padrão. A oclusão normal foi, por muitos anos, considerada o indício de normalidade. Observamos, entretanto, que da mesma forma que faces equilibradas, denominadas Padrão I, podem apresentar qualquer tipo de má oclusão, a oclusão normal pode ser observada em faces Padrões II, III, Face Longa ou Face Curta com discrepâncias moderadas, passíveis de compensações dentárias naturais ou ortodônticas. Portanto, a característica oclusal não deve ser a referência para a seleção de faces equilibradas, selecionadas, então, a partir da avaliação morfológica da face nas visões frontal e lateral.
Portanto, o estudo cefalométrico das faces Padrão I fornece os padrões de normalidade para comparação com grupos discrepantes dessa mesma população, permitindo quantificações mais realistas dos erros apresentados e oferecendo referências para correções na direção do normal do grupo ao qual o paciente pertence. Os desvios-padrão devem ser considerados, pois os indivíduos podem se encontrar nos extremos dos mesmos e ainda apresentarem uma face normal. Para os casos cirúrgicos, por exemplo, planeja-se a correção da face de um indíviduo Padrão Face Longa considerando como comparativo as característica do Padrão I dolicofacial. Desse modo, admite-se portanto, perfil mais convexo, alturas faciais anteriores aumentadas e incisivos mais verticalizados. Para o Padrão Face Curta o resultado almejado é o Padrão I braquifacial, com medidas cefalométricas situadas no extremo oposto do caso anteriormente citado.
O presente estudo, propõe, portanto, um conjunto de medidas a serem utilizadas como referência para a comparação com outras amostras brasileiras portadoras de discrepâncias, considerando a média e o desvio padrão de cada variável estudada.


Artigo na íntegra via Scielo:

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